sábado, 30 de abril de 2011

Mil tons

Quando vamos a um show não é só pela música em si. É pelo que ela representa pra nós. Emoções e lembranças despertadas. Momentos. Pode ser rock, jazz, reggae, blues, mpb, samba, caipira, rap e por aí vai. Cada um na sua.

Ando numa fase Rockn’roll. Quer dizer, sempre andei. Mas de uns seis meses pra cá fui a um bocado de shows de artistas e bandas estrangeiros que antes nem pensava em ver ao vivo. Desde o último novembro, pela ordem: Scorpions, Simple Mind, Paul McCartney, Iron Maiden, Ozzy Osbourne, U2, Motorhead. E em setembro tem Judas Priest, Whitesnake, Eric Clapton e o ROCKN" RIO!

Falo isso pra dizer que hoje fiquei em casa vendo e ouvindo Chico, Caetano, Cartola, Gil e Milton Nascimento. Lindo demais! Bom escutar música brasileira dessa qualidade, admirada em todo o mundo. Como neste vídeo do Milton, cantando e encantando no Festival de Jazz de Montreal.


quinta-feira, 21 de abril de 2011

Brasília 51. Uma boa ideia?

Foto: Mara Melo

Vinte e um de abril, aniversário de Brasília. Há 51 anos a capital do país trocava as areias cariocas pela aridez do cerrado. Até hoje persiste a polêmica: será que foi um bom negócio?

De um lado, reclamam que foi um projeto faraônico de JK, a dívida externa cresceu, o Rio de Janeiro foi abandonado etc. De outro, que a mudança trouxe desenvolvimento para o interior, que o centro do poder merecia mesmo um lugar especial, e a construção da cidade foi uma epopeia digna das grandes civilizações.

Acho que os dois lados têm suas razões. Seja como for, Brasília agora é uma jovem senhora; virou metrópole, com todos os problemas e vantagens que isso traz. O mais bacana por aqui é morar, de fato, num caldeirão cultural, conviver com gente de todos os cantos do país. Uma mistura democrática de sotaques, costumes e ritmos. Isso não se acha em qualquer cidade. Esse é o lado bom. Os políticos? O preço a pagar.


sábado, 16 de abril de 2011

Uma tarde na cracolândia


Desci na estação da Luz às 3h da tarde. O céu estava escuro e pelo jeito a tempestade não ia demorar. Contornei o prédio, caminhei uns três quarteirões e cheguei à casa amarela onde funciona a Missão Cena. Fui recebido por João, o presidente da entidade que atende dependentes químicos na cracolândia.

Conversamos por cerca de meia hora. Ele me mostrou o que chama de “kit noia”, uma bolsinha com vários isqueiros e cachimbos artesanais feitos em madeira, metal e até caroço de azeitona. Falou sobre o trabalho da ONG, que oferece oportunidade pra quem quer deixar o crack. “Menos de 5% conseguem”, disse.

Convidou-me para um passeio pelas redondezas. “Prepare-se para o que vai ver!”, advertiu. Deixei carteira e celular no seu escritório. Seguimos a pé pelas ruas decadentes da região, outrora área nobre de São Paulo. Não demorou para cruzarmos com os primeiros “noiados”. Magérrimos, esfarrapados e olhar perdido, perambulam pelas ruas sem destino e com um único pensamento: fumar mais e mais pedras.

Ao virar a esquina em frente à Sala São Paulo, imponente sede da Orquestra Sinfônica do Estado, o cenário é de horror. Umas 300 ou 400 pessoas alucinadas se amontoam nas calçadas consumindo, traficando e desfrutando dos poucos minutos de “onda” que cada cachimbada oferece. Zumbis saídos de um filme apocalíptico.

Caminhamos entre eles. Muitos vinham em nossa direção: “Pastor, me ajuda a sair dessa!”. Sim, João é pastor evangélico, e me impressionou o respeito que ele conseguiu daquela gente. Conversei com viciados, traficantes, prostitutas e comerciantes. Vi a PM chegar num camburão e dar uma dura em alguns usuários, enquanto a horda corria para outros quarteirões. Do alto, um helicóptero da TV Record filmava tudo. Foram quase duas horas na cracolândia. Uma experiência sensorial, com imagens, sons e cheiros únicos e desagradáveis.

Despedi-me do pastor João com um abraço. Tinha pressa. Meu voo para Brasília sairia dali a duas horas, e a tempestade continuava a se formar sobre nossas cabeças.

sábado, 9 de abril de 2011

Perigosa vizinhança


O vazamento radioativo em Fukushima, Japão, reacendeu o debate sobre a segurança da energia nuclear. Os países mais ricos logo correram a dizer que as usinas atômicas não são, assim, nenhuma bomba-relógio prestes a nos mandar pro beleléu.

Aqui no Brasil o complexo de Angra I e II também voltou a ser questionado. Nesta semana visitei o lugar, para uma reportagem sobre os riscos das comunidades vizinhas em caso de incidentes. Em meio às sinuosas curvas verdes e azuis da Rio-Santos fica difícil imaginar que, logo ali na frente, a mata Atlântica foi substituída pelas duas grandes cúpulas brancas que guardam os reatores de Urânio.

Lá dentro, vigilância total. Preenchi uma detalhada ficha de acesso, recebi capacete e óculos especiais, desliguei meu celular e tive uma aula de energia atômica. Como nunca fui bom em Física, não captei boa parte do que disseram. Mas fiquei sabendo, por exemplo, que 3% da eletricidade usada no Brasil vem dali. E que a totalidade dessa produção se destina a Rio e São Paulo. Vi também as obras de Angra III, que devem ser concluídas em 2015, e conheci o plano de retirada da população em caso de vazamento.

Saí e fui conversar com as comunidades. Perguntei às pessoas simples, no meio da rua, se elas não têm medo de morar tão perto da central nuclear. Têm sim. Lembraram que a rodovia é estreita, os deslizamentos são constantes e frequentemente a pista é interditada no período chuvoso. Ficaria difícil fugir se houvesse um desastre.

Voltei à usina. Perguntei a um dos diretores o porquê da escolha de um dos lugares mais belos do Brasil, verdadeiro tesouro ambiental, para aquela empreitada. Além disso, bem no meio das maiores metrópoles do país. “Isso foi no regime militar. Os generais decidiram que iam fazer uma usina aqui e fizeram”, respondeu.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Metal família

Nesta semana quem tocou aqui em Brasília foi o Iron Maiden. Turnê mundial The Final Frontier. Claro que fui. E levei meus dois filhos. Eu e o mais velho já tínhamos visto o Iron dois anos atrás. Para o mais novo seria a estreia em grandes concertos. No caminho ele não escondia a expectativa. Disse que um amigo da escola, também fã de rock, pedira ao pai que o levasse ao show, mas o pai negou porque “lá só vai ter marginal”. Então tá.

Chegamos meia hora antes do início. O público era variado. Cabeludos quarentões, jovens casais, tribos metaleiras, malucos beleza, famílias inteiras – pais, mães, avós e crianças. Sim, avós e crianças.

Quando Bruce Dickinson, Steve Harris e Cia. subiram ao palco foi uma explosão. Não havia mais diferenças de idade. Todos pulando, cantando e balançando a cabeça. Especialmente em clássicos como Two minutes to midnight, Fear of the dark e Run to the hills. Duas horas de adrenalina, paz e amor.

Britânicos que são, os donzelas de ferro fecharam o espetáculo pontualmente às 23h. Saímos abraçados, felizes e puxando os refrões. Minha mulher, que tinha ido ao cinema, nos esperava no carro. No caminho de casa, pit stop no McDonald’s. Programa família total. Ao contrário do que pensa aquele senhor lá do início, nem todo roqueiro tem cara de bandido.

Neste vídeo, “Run to the hills”, gravado no Rio de Janeiro.