sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

A fama dele de mau


Outro dia Leandro Wirz escreveu no seu Mar de Coisa sobre a angústia que é ter uma prateleira cheia de livros e não dispor de tempo para dar cabo a todos. Segundo ele é como “enxugar gelo”, pois na medida em que lemos um, outros vão chegando e se acumulam em volume cada vez maior. Confira em http://mardecoisa.blogspot.com/2011/01/longo-prazo-de-dias-curtos.html

Compartilho dessa aflição, mas não perco o hábito de entrar em livrarias para conferir as promoções. Dia desses achei uma com vários títulos a R$ 9,90. Levei cinco. Entre eles “Minha fama de mau”, biografia de Erasmo Carlos. Em casa, fui dar aquela folheada prévia antes de colocá-los no fim da fila. Mas a história do Tremendão me pegou. Textos curtos, leves e sem pretensões literárias. Memórias divertidas de um dos pais do rock’n roll nacional.

Erasmo narra a infância e adolescência simples na Tijuca, onde conviveu com Jorge Ben e Tim Maia, que lhe ensinou os primeiros acordes no violão. Lembra do início da carreira com The Snakes, com o qual acompanhou Cauby Peixoto numa das primeiras gravações de um rock no Brasil.

Recorda da primeira parceira com Roberto Carlos, Parei na Contramão, composta numa van a caminho de Copacabana. Em pouco tempo, chegariam ao auge, com a Jovem Guarda na TV Record. “O dinheiro estava entrando. Com o programa estourado em todo o Brasil, ditávamos moda entre a juventude da época. Meus discos vendiam como água e os shows lotavam”.

Um capítulo à parte é a relação com Narinha, mãe de seus filhos. Erasmo fala com saudades das aventuras ao lado da mulher. Como o acampamento hippie numa praia do Espírito Santo, início dos anos 70, em que desbundaram na companhia das futuras Frenéticas. Ou o jantar na casa de Raul Seixas, quando o Maluco Beleza o presenteou com um disco de Elvis Presley na capa do qual escreveu uma dedicatória até hoje indecifrada.

Ele é sucinto ao citar a morte de Nara, em 1995: “Até hoje falar do assunto mexe com meus sentimentos. Mesmo porque não sei lidar com a forma como ela se foi, tirando a própria vida”.

Bem menos glamourosa que a de seu parceiro Roberto, a carreira de Erasmo como cantor, não raro, incluiu shows em pequenos ginásios do interior e palcos improvisados em festivais universitários. Enfim, “Minha fama de mau” é a história de um homem comum que adorava rock e se transformou num dos mais bem-sucedidos compositores populares do país.

Acho que demorei uma semana para ler o livro, e só ao virar a última página me lembrei da fila na prateleira, que teima em não andar.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

De carona


Na adolescência, de vez em quando juntávamos dois ou três amigos pra “fugir” de Brasília de carona. Pegávamos um circular até a saída da cidade e, de lá, seguíamos pelo acostamento com o polegar estendido, ansiosos pra que uma alma caridosa nos recebesse em sua boleia. O destino? Pra onde o motorista fosse.

Foi assim que conheci Formosa, Alexânia, Cocalzinho, Pirenópolis e outras cidadezinhas de Goiás. Íamos sem dinheiro nenhum no bolso. A hospedagem seria em algum banco de praça ou porta de igreja. O que estivesse mais perto no final da madrugada.

Mas tínhamos um violão e muita disposição pra fazer amizades. Por isso não era difícil sermos acolhidos pelos boêmios locais, que nos davam bebida, comida e um lugar mais confortável onde esticar o esqueleto depois da farra. Na volta pra casa, novamente o acostamento até conseguir uma carona salvadora.

Foi com certa nostalgia que hoje, quando seguia para o trabalho, lembrei dessa época agora distante. Acabara de cruzar a Ponte JK, ar-condicionado e i-Pod no talo, quando vi três jovens turistas com suas câmeras fotográficas e mochilas. Enquanto curtiam o visual da beira-Lago, estendiam o dedão para os carros que passavam.

Veio um filme na minha cabeça. Questão de segundos. Até reduzi a velocidade, mas começava a chover, o trânsito era intenso e eu, pra variar, estava atrasado.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

2011, ano de celebrações


Meu amigo Rodrigo Resende fez um levantamento das efemérides e datas redondas que caem em 2011. O objetivo foi pautar possíveis reportagens para a emissora em que trabalhamos. Muitas delas, de fato, são de interesse jornalístico, como os dez anos do ataque ao WTC, em Nova York, e os 30 anos do atentado do Riocentro, um tiro no pé da ditadura que ajudou na redemocratização do Brasil.

Outras, com o perdão do meu atento colega, poderiam entrar para a galeria da cultura inútil É o caso do cinqüentenário da proibição das rinhas de galo e da comemoração do Dia do Leite em 24 de junho. Mas o que destaco aqui são algumas datas importantes para a arte e a cultura nacionais que aparecem na pesquisa. Como Rodrigo preferiu não publicá-las no seu blog (rodrigoresende.blogspot.com), tomo a liberdade de divulgar aqui no Olho de Prosa.

Neste ano comemora-se, por exemplo, o centenário de figuras como Nelson Cavaquinho, Mário Lago e Paulo Gracindo. E também os 90 anos de nascimento de Maria Clara Machado, Bibi Ferreira e Paulo Freire. Além disso, há exatas nove décadas Monteiro Lobato publicava seus clássicos “O Saci” e “Fábulas de Narizinho”.

Em 1931, lá se vão 80 anos, nasciam Chico Anysio e João Gilberto. E eram inaugurados o Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, e a Festa da Uva, em Caxias do Sul. Na turma dos 70 entram Roberto e Erasmo Carlos, que vieram ao mundo no mesmo ano em que o Repórter Esso ia ao ar pela primeira vez.

Há exatos 60 anos aconteceu a primeira edição da Bienal de São Paulo. Há 50, ano de criação da Orquestra Sinfônica Nacional, nascia o Paralama Herbert Vianna. Em 2011, faz 40 anos que morreu o escritor Anízio Teixeira. E 30 que morreram Mazzaropi e Glauber Rocha. Há 20 anos, quem partiu foram Gonzaguinha e Paulo Mendes Campos. E há dez, Jorge Amado e Cássia Eller foram desta para melhor.

Como viram, a lista é longa. E tinha muito mais coisa na pesquisa do meu amigo. Para que servem todas essas informações? No mínimo pra sabermos que não faltam motivos - felizes ou tristes - pra bebemorarmos em 2011.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Antes do apito final

Ontem fui ao aniversário de um amigo. 45 anos. Cheguei em sua casa e o cumprimentei: “Parabéns pelo fim do primeiro tempo!”. “Pô, não sacaneia!”, ele respondeu. Não era sacanagem. Costumo comparar nosso tempo de vida à duração de uma partida de futebol. Um ano, um minuto. Quarenta e cinco minutos cada tempo. Sem intervalo. Passou dos 90 já é prorrogação.

Depois, no meio da festa, meu amigo voltou ao assunto: “Interessante, não tinha pensado por esse lado. Quer dizer que tenho mais um tempo inteiro pela frente; dá pra fazer tudo de novo”. Outras pessoas entraram na conversa. Todos na faixa dos 40 (Tenho 42). Chegamos ao consenso óbvio de que não dá pra viver um segundo tempo idêntico ao primeiro. É preciso reinventar, criar novos projetos e pensar novos objetivos.

Se nas primeiras quatro décadas tínhamos a juventude soprando a favor, a partir de agora é a experiência que está do nosso lado. Conhecemos atalhos e aprendemos a evitar caminhos mais perigosos. Se até agora corremos contra o tempo para ter um bom emprego, comprar uma casa, construir uma família, daqui pra frente sobra mais tempo pra aproveitar os frutos de tantas batalhas.

Parece uma visão otimista demais sobre o avanço da idade? Talvez. Mas foi o melhor cenário que conseguimos desenhar em nossa roda etílico-filosófica. Seja como for, é preciso continuar jogando. Até o apito final.