quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Money For Nothing

Na semana passada as rádios canadenses foram proibidas de executar Money for Nothing, clássico de 1985 do Dire Straits. A censura veio após um ouvinte da cidade de St. John’s reclamar de suposto conteúdo homofóbico na canção.

Segundo o cidadão, a palavra “faggot”, citada várias vezes na letra, é depreciativa aos homossexuais. Numa tradução livre, “faggot” seria algo como o nosso “bicha”. Para o conselho regulador da radiodifusão no Canadá, o termo até poderia ser aceitável há 26 anos, mas se tornou inapropriado nos dias de hoje.

O tecladista da banda, Guy Fletcher, rebateu a acusação. Lembrou que a música não trata em nenhum momento sobre opções sexuais, mas que utiliza o inglês norte-americano coloquial para se referir a um operário sem nada no cérebro.

Realmente vivemos tempos de valorização da diversidade, combate a todos os tipos de preconceito e tal. Óbvio que isso é louvável. Mas, cá pra nós, esse patrulhamento exacerbado do politicamente correto já tá enchendo o saco, né?

Aqui no Brasil, outro dia, queriam proibir Monteiro Lobato nas escolas, alegando citações racistas contra Tia Nastácia.

Casos como esses me lembram aquela piada do marido que chega em casa e, encontrando a mulher com o amante na sala, resolve vender o sofá. Bom, enquanto não censuram Money for Nothing também por aqui, vale curtir o clipe que invadiu nossas salas na década de 80.


quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Fim do caminho

“É pau, é pedra, é o fim do caminho”. Em Águas de Março, de 1972, Tom Jobim parece profetizar o que iria acontecer em seu sítio Poço Fundo quase quatro décadas depois. Sim, a casa de campo do maestro foi uma das destruídas pela enxurrada que varreu a região serrana do Rio de Janeiro neste início de ano, causando mais de 700 mortes até agora confirmadas.

Tom era amante da natureza e dos animais, e na época em que fez a música devia vibrar ao ver a chuva tornando ainda mais verde sua propriedade. Se ainda vivo, talvez fizesse algo lamentando os deslizamentos que a cada verão vitimam tantos brasileiros. Sem que as autoridades tomem nenhuma medida efetiva para superar essa situação.

Geólogos, urbanistas, climatologistas, ambientalistas e outros "istas" são unânimes em afirmar que sairia muitíssimo mais barato para o poder público prevenir do que remediar essas tragédias. E quantas vidas seriam salvas...

Em 2010 assistimos às mesmas cenas em Angra dos Reis, Niterói e outras cidades. Os governantes de então prometeram providências para evitar que novos casos acontecessem: retirada de casas situadas em áreas de risco, reflorestamento de terrenos degradados, canalização de cursos d'água, etcetcetc. Mas aí os corpos foram enterrados, veio a estiagem, a mídia saiu de cena e tudo foi se ajeitando. Mais ainda: começou o período eleitoral e os políticos trataram de se ocupar das respectivas campanhas, cada um querendo garantir o seu.

Entramos em 2011 e chegaram as águas de verão. Soterramentos, mortes e destruição. As autoridades? Os mesmos discursos e promessas. Infelizmente essa rotina macabra deverá continuar e ser um dos hits do verão de 2012. O velho Tom deve estar chorando baixinho lá de cima: "Minha alma canta, vejo o Rio de Janeiro..."

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Fora da área de serviço


Esse aí da foto sou eu. Não, não se trata de um despreocupado passeio pelas dunas. Quer dizer, era pra ser. Explico: estou em Fortaleza, uns dias de férias. A praia é ótima. Afastada da cidade, ondas fortes, águas limpas, sem ambulantes. Mas tem um problema: banhistas e pedestres têm que dividir espaço com jipes, camionetes, motos e, principalmente, quadriciclos. Passam o dia todo de um lado para o outro.

Desde que cheguei protesto contra isso. Além do óbvio risco de acidentes, acho uma agressão ambiental. O gerente do hotel disse que até já instalaram cavaletes na areia para tentar impedir esse tráfego. Mas um dia veio um juiz numa Hilux e mandou tirar, alegando que estavam cerceando seu “direito” de ir e vir. A velha prática da carteirada, comum em todo o Brasil.

Bom, depois de cinco dias de praia resolvemos ver o por do sol na foz do Rio Pacoti. Menos de 1 km do hotel. Já estava escurecendo, e quando botamos o pé na areia veio um cara de pochete na cintura oferecendo o aluguel de um quadriciclo. Cinquenta reais meia hora. “Se não pode vencê-los...”.

Dedo no acelerador. Delícia! No caminho até o rio tem uma área grande de dunas. Descemos, subimos, voamos. Em poucos minutos chegamos ao nosso destino. Visual!

Enquanto curtia os últimos raios, procurei meu celular no bolso da bermuda. Queria ver quanto tempo ainda tínhamos. Nada. Caiu na areia, no meio do sobe-desce. Sumiu.

Tentamos refazer o trajeto percorrido. Eu motorizado e minha mulher a pé. Foi quando ela tirou essa foto aí de cima. Impossível achar o caminho certo e muito menos o aparelho. Desistimos. Devolvemos o quadriciclo com certo atraso.

Decidi dar um último mergulho. Assim que entrei na água, dois caras com latinhas de cerveja na mão vêm correndo até mim. “Aurélio, sai daí! É perigoso tomar banho à noite!”, “Aurélio, vem pra cá!”. Estavam bêbados e me confundiram com alguém da turma. Mesmo assim obedeci. Já tinha acontecido imprevisto suficiente pro meu gosto. E eu ainda precisava ligar pra operadora e bloquear o aparelho.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Difícil adeus ao poder


No auge da ditadura sul-americana o general Pinochet dizia que, no Chile, nenhuma folha caía sem que ele soubesse. No Brasil redemocratizado, Ulisses Guimarães afirmava que o poder lhe trazia orgasmos. Bem antes disso, na França, Luis XIV enchia a boca para decretar “"L'État c'est moi!”.

O apego dos políticos ao poder vem de longe. E nas últimas semanas de dezembro, foi a vez do ainda presidente Lula reforçar essa tese. Talvez nunca na história desse país um chefe de governo tenha lamentado tanto, e tão publicamente, os estertores de seu mandato. Em cada discurso e aparição, lá estava ele chorando por ver a caneta lhe escorrer pelas mãos.

Numa de suas últimas entrevistas no cargo, ameaçou sair correndo com a faixa e não entregá-la à pupila Dilma Roussef. E emendou: “Quero só ver como será minha vida na segunda-feira sem o ajudante de ordens”. Essas tiradas, próprias do bem-humorado presidente, revelam a aflição com que ele deixava os holofotes do poder.

Veio a posse de Dilma, e Lula democraticamente passou a ela a faixa presidencial. Mas enquanto ela permanecia dentro do Planalto, prisioneira de um enfadonho protocolo cerimonial, o agora ex-presidente corria para os braços do povo. Suado, descabelado e com lágrimas nos olhos, consolava os eleitores que o aclamavam na Praça dos Três Poderes: “Não vou abandonar vocês, estarei sempre ao seu lado”, dizia em tom messiânico.

Não se pode condenar Lula por esse apego às glórias e aos aplausos. E nem acreditar que esse tipo de comportamento seja exclusividade dos políticos. Quantos artistas, atletas e outras celebridades caíram em depressão após saírem do foco dos refletores? O poder é efêmero, a fama também. E a nossa própria vida, bem mais importante, é igualmente finita. O problema é que sempre fazemos questão de esquecer esse detalhe.