segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Fila do banco

Quando a agência da Caixa abriu, às 11h daquela segunda-feira, a fila já devia estar grande. Cheguei uma hora depois, e cruzei com vários funcionários saindo para o almoço. Lá dentro, pouca gente pra atender uma multidão. Pensei em dar meia volta e desistir, mas fazia meses que adiava aquela ida ao banco. Tinha um saldo do FGTS a receber, coisa de R$ 1 mil mais ou menos.

Peguei a senha 43 do setor de fundos e benefícios federais. A última do painel era a 19. Sentei e procurei relaxar. Uma olhada no celular, uma conferida nos documentos que levara, uma folheada na velha carteira de trabalho..."Senha 22". À minha volta, homens e mulheres simples, trabalhadores calejados em busca de alguma migalha perdida na burocracia estatal. E também vários beneficiários do Bolsa Família que não conseguiram sacar o dinheiro na boca do caixa.

No balcão, apenas duas funcionárias: uma senhora atenciosa e barulhenta, que tratava todos como crianças - “Dona Maria, querida, deixa eu ver sua identidadezinha, meu bem?” – e uma jovem calada, com jeitão de estagiária. “Senha 25”.

Parecia fila de confessionário. A cada número chamado, um drama pessoal. “Seu José, o sr. não tem saldo na continha do fundo não. Será que seu empregador fez mesmo o recolhimento?” E o seu José, coitado, sem saber o que fazia ali. “Dona Aparecida, meu amor, estou vendo aqui no sistema que sua Bolsa foi suspensa”. E a velha senhora, atônita, pensando no que dizer quando chegasse em casa de mãos abanando. “Senha 34”.

Seu Sebastião, um idoso boa praça que chegou amparado em muletas, admitiu, após várias explicações, ter sido demitido por justa causa, daí a indisponibilidade de seu Fundo de Garantia. “É que na época eu gostava de um gole, moça. Faltava muito ao serviço! Depois disso nunca mais trabalhei com carteira assinada”. Outra senhora se exaltou ao não conseguir sacar a Bolsa Família do marido: “Aquele sem-vergonha foi embora e disse que eu podia ficar com o cartão!”. “Senha 42”.

Faltava só um para eu ser atendido. Uma e quinze da tarde. Levantei-me esgotado pela espera, mas comovido com tanta história difícil que ouvira. O 43 surgiu no painel e indicou o balcão da funcionária mais experiente, aquela atenciosa e barulhenta. Em vão: “Meu senhor, pode aguardar mais um pouco que a moça aqui do lado vai atendê-lo. Deu minha hora de almoço”.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

The Pelvis

Dezesseis de agosto de 1977. Eu tinha nove anos de idade, mas lembro como se fosse ontem. Família reunida para o almoço (jantar?) de uma terça-feira comum. Televisão da sala ligada, o locutor (Cid Moreira?) dá a notícia: “Morreu hoje, aos 42 anos, o cantor Elvis Presley. Foi encontrado caído no banheiro de Graceland, sua mansão em Memphis, Tenessee”.

Naquela época não havia internet, nem twitter, nem celular e nem TV a cabo. Mas a morte do "Rei do Rock" se tornou onipresente na mídia de então. Jornais, revistas, rádios, só se falava nele. E na telinha, tome reprise de O Seresteiro de Acapulco, Feitiço Havaiano, Ama-me com Ternura, Viva Las Vegas e outros “clássicos”.

Elvis virou febre, e entre uma partida de futebol e um rolé de bicicleta, gostávamos de imitá-lo com a gola levantada, voz grave e empostada, beijando uma a uma as garotas da plateia.

Fã mirim de Beatles e Raul que era, adicionei o repertório presleyano aos meus “favoritos”. Naquelas semanas, ganhei dos meus pais um compacto com It’s Now or Never de um lado e Jailhouse Rock do outro. Até hoje guardo o vinilzinho no fundo de um armário lá de casa.

Passados exatos 34 anos daquela terça-feira, da qual – tudo bem, admito - as lembranças surgem embaçadas, fica a homenagem a Elvis Aaron Presley. Que neste vídeo canta Suspicious Minds, um de seus maiores sucessos.