terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Difícil adeus ao poder


No auge da ditadura sul-americana o general Pinochet dizia que, no Chile, nenhuma folha caía sem que ele soubesse. No Brasil redemocratizado, Ulisses Guimarães afirmava que o poder lhe trazia orgasmos. Bem antes disso, na França, Luis XIV enchia a boca para decretar “"L'État c'est moi!”.

O apego dos políticos ao poder vem de longe. E nas últimas semanas de dezembro, foi a vez do ainda presidente Lula reforçar essa tese. Talvez nunca na história desse país um chefe de governo tenha lamentado tanto, e tão publicamente, os estertores de seu mandato. Em cada discurso e aparição, lá estava ele chorando por ver a caneta lhe escorrer pelas mãos.

Numa de suas últimas entrevistas no cargo, ameaçou sair correndo com a faixa e não entregá-la à pupila Dilma Roussef. E emendou: “Quero só ver como será minha vida na segunda-feira sem o ajudante de ordens”. Essas tiradas, próprias do bem-humorado presidente, revelam a aflição com que ele deixava os holofotes do poder.

Veio a posse de Dilma, e Lula democraticamente passou a ela a faixa presidencial. Mas enquanto ela permanecia dentro do Planalto, prisioneira de um enfadonho protocolo cerimonial, o agora ex-presidente corria para os braços do povo. Suado, descabelado e com lágrimas nos olhos, consolava os eleitores que o aclamavam na Praça dos Três Poderes: “Não vou abandonar vocês, estarei sempre ao seu lado”, dizia em tom messiânico.

Não se pode condenar Lula por esse apego às glórias e aos aplausos. E nem acreditar que esse tipo de comportamento seja exclusividade dos políticos. Quantos artistas, atletas e outras celebridades caíram em depressão após saírem do foco dos refletores? O poder é efêmero, a fama também. E a nossa própria vida, bem mais importante, é igualmente finita. O problema é que sempre fazemos questão de esquecer esse detalhe.

Um comentário:

  1. Olá Celso!
    Obrigada pela visita!
    Parabéns por escrever tão bem...
    Muito bom este seu texto.
    Beijos

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