quinta-feira, 17 de março de 2011

É o bicho


Tarde de sábado no Rio. Encontro um amigo em Laranjeiras e ele me convida pra botar o papo em dia num boteco perto de sua casa. Pedimos dois chopps e ficamos conversando na calçada, copos apoiados em barris de metal. Logo notamos um movimento constante em torno de dois senhores numa mesa ao lado. Eram bicheiros. Ou melhor, apontadores do jogo.

Tradicional e presente em quase todo o Brasil, o bicho é ilegal desde a década de 40. Nem parece. A turma fazia sua fezinha tranqüila, enquanto discutia a rodada futebolística do fim de semana.

Observando aquele movimento, lembramos que há tempos o jogo do bicho saiu das páginas da imprensa. Na década de 80 só se falava em Castor de Andrade, Anísio Abraão e outros barões que transitavam entre o submundo e a high society carioca. Hoje são os seus herdeiros que dão continuidade aos negócios. Mas é como se não existissem.

Vez ou outra, meu amigo, fumante inveterado, dava um passo para dentro do bar pra pegar mais um chopp no balcão. Numa dessas vem o dono, reclamando com aspereza: “Ô rapaz, é proibido fumar aqui dentro. Daqui a pouco vem a fiscalização e me ferra!”. Meu amigo responde na lata: “Quer dizer que jogo do bicho pode, mas entrar e sair um segundo com o cigarro na mão é proibido!?”

Silêncio total. O cara do bar ficou atônito, entre furioso e apavorado. Os dois bicheiros – apontadores - se entreolharam. Fizeram menção de se levantar pra falar alguma coisa com a gente. Decidimos pedir a conta e nos retirar. Lei é lei...

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