José Anselmo dos Santos foi um dos líderes do motim de marinheiros que, em março de 1964, ajudou a desencadear o golpe contra João Goulart e mergulhar o país na ditadura. Foi expulso da Marinha e preso; depois fugiu, virou militante de esquerda e participou de treinamentos de guerrilha em Cuba.
Retornou ao Brasil para atuar na luta armada. Em 1971 foi novamente preso e, como os demais “subversivos” da época, submetido a choques elétricos e pau de arara. Quando deixou os porões do Dops estava convertido ao regime. Agente duplo, “cachorro” dos militares, passou a delatar seus antigos companheiros. Nas suas próprias contas, ajudou o infame delegado Fleury a matar uns 200. Entre eles a mulher com quem vivia, Soledad, assassinada em Recife, no quarto mês de gravidez.
Quatro décadas se passaram desde então. Nesta semana, ligo a televisão e lá está Cabo Anselmo, na arena do programa Roda Viva da TV Cultura. Um senhor de barba e cabelos brancos desgrenhados, vestindo suéter de lã e tentando justificar o injustificável. Disse que considera “traição” uma palavra muito pesada para o que fez. “O que fiz foi evitar uma guerra civil. Só me arrependo de ter deixado a Marinha e partido para o lado da insubordinação, num momento em que o país crescia”.
Remorso? Nem pela morte da mulher. “Soledad era uma poetisa, criatura doce e carinhosa. Mas também era filha de dirigentes comunistas; foi ela quem escolheu levar aquele tipo de vida. Eu sabia dividir bem nossa relação marital e a militância. E me arrepender não vai trazê-la de volta”.
Cabo Anselmo é um homem acuado. Mais de 20 anos após o fim da ditadura, vive clandestinamente em algum canto escondido desse país. Não tem RG ou CPF. Anda pelas sombras, segundo ele sustentado por três “amigos”. “Já tive medo de morrer, hoje não tenho mais”.
Não foi fácil assistir à entrevista. Angustiante ver aquele idoso ser metralhado por perguntas sobre um passado do qual não pode escapar. Talvez nem com a morte, onde, quem sabe, encontrará Soledad e os demais companheiros que ajudou a matar.
Retornou ao Brasil para atuar na luta armada. Em 1971 foi novamente preso e, como os demais “subversivos” da época, submetido a choques elétricos e pau de arara. Quando deixou os porões do Dops estava convertido ao regime. Agente duplo, “cachorro” dos militares, passou a delatar seus antigos companheiros. Nas suas próprias contas, ajudou o infame delegado Fleury a matar uns 200. Entre eles a mulher com quem vivia, Soledad, assassinada em Recife, no quarto mês de gravidez.
Quatro décadas se passaram desde então. Nesta semana, ligo a televisão e lá está Cabo Anselmo, na arena do programa Roda Viva da TV Cultura. Um senhor de barba e cabelos brancos desgrenhados, vestindo suéter de lã e tentando justificar o injustificável. Disse que considera “traição” uma palavra muito pesada para o que fez. “O que fiz foi evitar uma guerra civil. Só me arrependo de ter deixado a Marinha e partido para o lado da insubordinação, num momento em que o país crescia”.
Remorso? Nem pela morte da mulher. “Soledad era uma poetisa, criatura doce e carinhosa. Mas também era filha de dirigentes comunistas; foi ela quem escolheu levar aquele tipo de vida. Eu sabia dividir bem nossa relação marital e a militância. E me arrepender não vai trazê-la de volta”.
Cabo Anselmo é um homem acuado. Mais de 20 anos após o fim da ditadura, vive clandestinamente em algum canto escondido desse país. Não tem RG ou CPF. Anda pelas sombras, segundo ele sustentado por três “amigos”. “Já tive medo de morrer, hoje não tenho mais”.
Não foi fácil assistir à entrevista. Angustiante ver aquele idoso ser metralhado por perguntas sobre um passado do qual não pode escapar. Talvez nem com a morte, onde, quem sabe, encontrará Soledad e os demais companheiros que ajudou a matar.
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