terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Igualdade, fraternidade. Liberdade?


No caminho de Varadero para Havana, pergunto ao taxista/engenheiro Oscar o que ele achava sobre o governo cubano ter abolido a necessidade de autorização prévia para os cidadãos viajarem ao exterior. A resposta veio num desalento: “O que importa? Ninguém tem dinheiro pra isso mesmo....”.
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Chegamos à capital no início da noite. O carro ziguezagueava por ruas mal-iluminadas e barulhentas em direção à casa Vitrales, nosso endereço pelos próximos dias. O proprietário, Osmany, aluga quartos para turistas. Subimos por uma escadinha íngreme e apertada. Contraste total com o Meliá, onde passáramos o fim de semana.
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Calle La Habana, 106. A casa é confortável, reformada. Quartos amplos, banheiros e roupa de cama limpos, café da manhã feito com carinho por Selene e Pife. O casal é o braço-direito do dono da casa. Simpatia e atenção total. Não fosse pelo barulho da vizinhança, que às 6h já está a todo vapor, o sono seria perfeito.
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Osmany nos mostra o segundo andar, onde novos quartos estão sendo construídos. Fala sobre as dificuldades de achar material e mão-de-obra na ilha. Explica que a maioria da população recebe salário do governo. O valor é baixíssimo, suficiente apenas para a cesta básica e itens de primeira necessidade. Muitos se contentam com isso. Outros, como ele, vão à luta para aumentar o orçamento.
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"Esta noite milhões de crianças dormirão na rua, mas nenhuma delas é cubana". A frase, atribuída a Fidel, representa bem o que vemos – ou não vemos - em Havana. Lá, lugar de criança é mesmo na escola. Os pais que não garantirem isso aos filhos são responsabilizados criminalmente. Não há meninos nos semáforos, ou engraxando sapatos, ou vendendo balas, ou cheirando cola. Os filhos dos ricos e dos pobres nascem nos mesmos hospitais. E estudam nas mesmas escolas.
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Caminha-se tranquilamente pelas ruas de Havana, inclusive de madrugada. Sem medo de assaltos ou sequestros-relâmpagos. Mas a cada passo somos abordados por gente oferecendo charutos (todo mundo tem um “primo” ou “amigo” que trabalha na fábrica), runs, passeios, artesanatos e até jantares em restaurantes clandestinos. Diante da negativa, pedem cigarro ou algum outro regalo e se vão.
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Cuba permanece um destino atrativo para os militantes da esquerda brasileira. Tivemos, nos voos de ida e de volta, a companhia do governador do DF, Agnelo Queiroz (PT, ex-PC do B). Ele na classe executiva. Uma noite, no Museu do Rum, o ator José de Abreu (PT) dançava embalado por artistas locais. No Hotel Nacional, o ministro do Esporte, Aldo Rebelo (PC do B), tomava um café e mexia em seu i-Pad no bar da piscina.
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Antes de ir para Cuba, li em algum blog a dica para levar papel higiênico na bagagem. Precioso conselho. Esse é um item raro por lá. Nos bares, nem pensar. Nos melhores restaurantes até que tem, mas regrado e de uso estritamente controlado por senhorinhas sentadas à porta dos banheiros, pires de moedas à mão.
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Quinze a vinte minutos de voo separam Miami de Havana. Até a década de 1950, Cuba era parque de diversões para milionários, mafiosos, políticos e traficantes dos EUA. O ditador Fulgêncio Batista vendia terras para os gringos e embolsava o dinheiro. Em janeiro de 1959, Fidel Castro, Che Guevara, Camilo Cienfuegos e outros revolucionários tomam o poder pelas armas. A ordem é distribuir a riqueza e assegurar saúde, educação, comida e moradia para todos. O preço a pagar é a restrição às liberdades individuais. Não há mais voo direto entre a Flórida e a capital cubana.

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