segunda-feira, 18 de julho de 2011

Mandela's Day

Foto: Museu do Apartheid, Johannesburgo

Quando Nelson Mandela deixou a cadeia, em maio de 1990, após 27 anos recluso, foi recebido pela mulher, Winnie, em uma nova casa. Ampla, confortável e principalmente segura, a residência fora equipada com vidros blindados, câmeras e cercas elétricas. Tudo para receber o morador ilustre, que se tornara celebridade política internacional.

Adquirida com ajuda do ator Clint Eastwood, a construção contrastava com a pobreza da vizinhança. Madiba não gostou: “Passei tanto tempo preso e agora vocês querem me confinar aqui?”. Seu desejo era andar livre pelas ruas, conversar com o povo, liderar o golpe de misericórdia no regime de segregação. Em pouco tempo, divorciado, Mandela seria presidente da África do Sul.

Ainda hoje Winnie mora naquela casa, que virou atração turística para quem visita o Soweto. Aliás, o distrito negro, colado em Johannesburgo, raramente está nos roteiros das agências de viagens, que preferem levar os clientes para o circuito “safáris-praias-vinícolas” do país. Uma pena. Visitar o local é estar frente a frente com um capítulo marcante da história mundial.

Ao contrário do que muitos pensam, o Soweto não é uma favela. Trata-se de um conjunto de bairros que, juntos, abrigam 4 milhões de moradores. Sim, há barracos e há miséria, agravada pela vinda de refugiados de Moçambique, Namíbia e outros países mais pobres do continente.

Mas existem também boas casas, escolas, ruas asfaltadas, comércio variado, restaurantes de comida tradicional e outros equipamentos urbanos. E até uma TV Soweto, com conteúdo produzido pela comunidade. Melhorias conseguidas graças à consciência cidadã forjada no embate político-social.

"Perdoem, mas não esqueçam!”, foi uma determinação de Mandela que a população dali seguiu a risca. As cicatrizes são expostas com orgulho. Exemplo disso é o Hector Pieterson Memorial, erguido em homenagem ao jovem estudante assassinado pela polícia branca em 1976. A foto de seu cadáver carregado por um colega abriu os olhos da comunidade internacional para o absurdo do Apartheid, e hoje estampa a fachada do museu.

A Vilakasi Street também é parada obrigatória: trata-se da única rua do planeta que já foi endereço de dois prêmios Nobel da Paz: do próprio Nelson Mandela e do bispo Desmond Tutu.

Em toda a África do Sul, e não apenas no Soweto, a figura de Mandela é reverenciada como a do maior herói nacional. O homem que conseguiu unir negros e brancos, reinventando o país como nação democrática.

Neste 18 de julho ele completou 93 anos de idade. Aposentado da política, continua ativo no enfrentemanto à epidemia de Aids na África. Em seu aniversário, anualmente, o mundo celebra o Mandela’s Day. A ideia é que, inspiradas no seu exemplo, mais e mais pessoas façam algo em favor de uma humanidade melhor. Que tal ser Mandela por um dia?

Foto: Memorial Hector Pieterson, Soweto



Fotos: Celso Cavalcanti - Soweto

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