quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Festa no Morumbi


Faltavam 2h30 para o show e a garoa não dava trégua. Fizemos um pit-stop numa padaria próxima à Paulista. Na entrada, encontro um velho amigo de Brasília. Estava em São Paulo a serviço. Contei que ia ver o Paul McCartney. “Não tenho mais idade nem paciência para essas multidões”, disse ele antes de nos despedirmos.

Entramos no táxi. Segunda-feira, rush e água caindo. Quase 2h de engarrafamento. O taxímetro e o relógio apostando corrida. Preocupados com a pontualidade britânica de Sir Paul, fomos deixados numa ladeira a alguns quarteirões do estádio. Na descida, cambistas e ambulantes ofereciam ingressos e capas de chuva.

Pisamos no gramado faltando dez minutos para as 21h30 e escolhemos um lugar de onde poderíamos enxergar minimamente o palco. Encarei a fila pra comprar logo seis fichas de cerveja. Cinco reais a latinha. Quando retornava, Macca dispara os primeiros acordes de Magical Mystery Tour. Difícil encontrar a turma, longe demais do palco, cabeça ainda no engarrafamento.

Mais duas ou três músicas, vou ao banheiro. Assim que entro no cubículo químico e fétido, a introdução de Got to Get You into My Life me faz cair na real. “Porra, tô num show dos Beatles!”. Pelo menos o mais perto disso que poderei chegar na vida.

Saí o mais rápido que pude. Cantando, pulando e, agora sim, com a ficha no seu devido lugar. Na sequência, um repertório com que só um bandleader Beatle poderia brindar seu público: The Long and Winding Road, Blackbird, Something, A Day In The Life, Eleanor Rigby, Paperback Writer, Hey Jude, Get Back e outros clássicos.

No telão, a expressão simpática daquele senhor tão familiar de 68 anos. No palco, uma formiguinha atômica se sacudindo e tentando falar português. Na pista, nas cadeiras e arquibancadas, um coro histérico de fãs de todas as idades. Quase três horas de emoção à flor da pele.

Terminados os últimos acordes de Yesterday, a volta à realidade. Fila quilométrica, procura insana por um táxi, etc.etc.etc. De vez em quando alguém puxava um refrão e era prontamente respondido. Naquela chuvosa madrugada de terça-feira saímos do Morumbi mais jovens do que entramos. De alma lavada, lembrei-me do meu amigo da padaria. Bom se ele tivesse ido...

Um comentário:

  1. Ver um dos T-Rex do rock mais emblemáticos faz qualquer um repensar valores. Belíssimo show, inesquecíveis momentos.

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